domingo, 18 de julho de 2010

O conto de uma noite memorável

Bem que se quer ser feliz a todo momento, mas felicidade é tão preciosa, tão importante nesse mundo que deve ser saboreada de preferência em raros e singelos momentos.
Pensando nisso Sebastião sorria satisfeito ao riscar mais traço vertical na parede de sua cela de 3x3m. Faltavam apenas mais cinco dias para cumprir sua longa pena de 28 anos.
Respirou fundo Sebastião, como que saboreando os últimos instantes daquele momento feliz.
Ele tinha experiência suficiente para saber que tudo poderia acontecer em cinco dias.
As luzes se apagaram, choro convulsivo dos novatos, escárnio dos apenados mais antigos. "Obrigado meu pai" pensou Sebastião antes de adormecer.
Ele sabia que dali a 120 horas, 7200 minutos, 932.000 segundos, ele veria o sol entre duas árvores e não entre duas grades. O vento sopraria no seu rosto quando ele estivesse no meio de uma praça e não no meio de muros de brita.
Ao adormecer logo se viu em sonhos, e um rosto circundou uma de suas derradeiras noite de preso. Um rosto lindo, moreno, delineando cada bochecha com uma luz dourada que lhe arrepiou cada pelo do seu corpo relaxado em sono profundo.
A liberdade era a sensação tocante no olhar daquela mulher linda e quente. Em um instante forte e impulsivo de sua fantasia beijou-a fortemente retomando uma excitação há muito tempo esquecida depois tão longo carcere.
E num impacto fulminante despertou de um emaranhado de sentimentos e viu a sua frente o carcereiro que o acordava.
"Queria tanto amá-la, amá-la como ninguém.
Mas amá-la é impossível. A mala ficou no trem".
...E ninguém acreditara no que se vivera lá, mas na volta todos gostariam de ficar...
Tentamos andar no compasso da solidão,
sempre contrariando os acordes que unem,
sempre buscando os contratempos...
O que não percebemos
é que todos tentamos andar no mesmo compasso,
todos juntos no mesmo ritmo criamos um único som.
Mas fodam-se os ritmos e as harmonias.
Fodam-se...que é muito bom!
De certa maneira acredito que tudo isso não passou de um sonho doido.
Como poderiamos crer que tal forma seria possível dentre tantos outros pensamentos malucos.
Que justo ela...ou então...
Seria fruto de uma mente maluca como a sua ou a de todos nós...
Ou será que só eu fui além do que achei que todos iriam?

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